“O pior acontece quando o pseudólogo é levado a sério por um grande público”

Por Gustavo Barreto (*)
'El demagogo', obra de 1946 de José Clemente Orozco (1883-1949), pintor mexicano. Imagem: Museo Nacional de Arte (domínio público)

‘El demagogo’, obra de 1946 de José Clemente Orozco (1883-1949), pintor mexicano. Imagem: Museo Nacional de Arte (domínio público)

Segundo Carl Jung, o diagnóstico de Hitler era o de “pseudologia phantastica”, uma forma de histeria que se caracteriza pela capacidade especial em acreditar nas próprias mentiras.

“Nada é mais convincente do que se acreditar que a própria mentira, a própria maldade ou má intenção sejam boas; em todo caso, é bem mais convincente do que um homem simplesmente bom e sua boa ação ou de um homem mau e sua má ação”, escreveu.

Ele acrescenta: “No rosto desse demagogo se podia ler uma triste falta de formação que produziu uma presunção delirante, uma inteligência mediana dotada de astúcia histérica e uma fantasia de poder adolescentes. Seus movimentos era todos artificiais e preestudados por um cérebro histérico que só se preocupava em causar impressão.”

E finaliza: “Ele foi levado aos céus, tendo havido inclusive teólogos que nele viram o salvador. (…) O pior acontece quando o pseudólogo é levado a sério por um grande público.”

Embora os termos da época estejam em desuso na psicologia e na psiquiatria contemporânea, não há dúvida de que a descrição do problema continua pertinente. É, no mínimo, um alerta assombrosamente atual.

PARA LER:
Carl Jung, Obras Completas, 10/2 (Editora Vozes)

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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