“O escritor criativo faz o mesmo que a criança que brinca”

Por Gustavo Barreto (*)
Foto: piqsels.com

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“O escritor criativo faz o mesmo que a criança que brinca.”

Com essa frase, Freud resume talvez seu sentimento em relação à questão que se coloca sobre a criação literária. Para o autor, o “exame das fantasias conduz aos problemas dos efeitos poéticos”.

Em seu texto Escritores criativos e devaneio, a pergunta, claro, não é pequena: qual é o ‘pulo do gato’ quando se trata da criação literária? E, por que não, da criação em geral? O que faz do artista um indivíduo diferente de todos os demais seres humanos? Qual seu material de trabalho? Qual a sua fonte?

Creio que a pergunta não é pequena por um motivo que interessa a todos os estudiosos da mente humana: será a fonte de criação o nosso inconsciente? E, portanto, ao investigar seu resultado – a arte –, estaríamos portanto investigando o modo de funcionamento do inconsciente, sua dinâmica e símbolos? Freud argumenta que “a verdadeira satisfação que usufruímos de uma obra literária procede de uma libertação de tensões em nossas mentes”, abrindo espaço para nossos próprios devaneios.

Um dos pontos que Freud enfatiza, ao vincular o artista à criança, é justamente sua “irrealidade”: o mundo imaginativo – do artista, da criança – é o que nos proporciona o prazer. E, assim, ambos realizam seu trabalho – a criação artística num caso, o brincar no outro – com muita “seriedade”.

Como poderiam dizer alguns: aquele que está “no mundo da lua” e, portanto, longe de sua realidade. É o mundo da criança, do artista – e de muitos de pessoas sofrendo distúrbios mentais e que, curiosamente, produzem por vezes incríveis obras artísticas.

Por fim, chama a atenção que muitos dos motivos manifestos nas obras artísticas e no brincar se unem ao que Freud chama de “tesouro popular dos mitos, lendas e contos de fadas”. Ao mesmo tempo em que, nesse período, o autor aponta que “ainda está incompleto o estudo de tais construções da psicologia dos povos”, afirma que “é muito provável que os mitos, por exemplo, sejam vestígios distorcidos de fantasias plenas de desejos de nações inteiras, os sonhos seculares da humanidade jovem”.

Este último parece ser um interessante objeto de estudo do qual os psicólogos deveriam se ocupar, dando continuidade aos já diversos estudos realizados por mais de um século sobre o tema – como é o caso de Carl Jung e Nise da Silveira, entre tantos outros.

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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