‘Não somos racistas. Mas não queremos quistos’
Um articulista do Correio da Manhã, Pimentel Gomes, publica na edição de 9 de junho de 19591 um texto em que relata uma conversa com o então presidente do Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC), principal órgão responsável pelo tema à época. Segundo o autor, os estrangeiros continuam a chegar ao Brasil “anualmente, às dezenas de milhares”, lamentando a falta de recursos para a imigração “dirigida ou subvencionada”. É “lastimável”, diz, pois se trata de uma imigração “muito útil ao Brasil”.
A média de imigrantes europeus, de cerca de 9 mil por ano desde 1952, “não é muito” e “poderia e deveria ser muito mais”, pois “se trata de gente muito boa, quase sempre de técnicos indispensáveis à indústria”. Os estrangeiros vindos por meio da imigração dirigida, diz Pimentel Gomes, são principalmente austríacos, alemães, gregos, italianos, holandeses, espanhóis e brancos expulsos da China”.
O autor passa, então, a comparar os números da Argentina com os do Brasil, classificando os imigrantes. Os holandeses são “excelentes”, tendo trazido “bons bovinos leiteiros e apetrechos para a indústria de laticínios”; os austríacos, “imigrantes de primeira ordem”; os gregos, “bons colonos”; os italianos, “um dos melhores colonos” e “muito têm contribuído para o progresso brasileiro”.
Ele registra ainda que o Brasil recebera 3.416 “refugiados brancos, da China”, enquanto a Argentina recebera 52. No caso dos chineses, o autor não faz nenhum comentário. O autor conclui o artigo dizendo ser “mister” aumentar consideravelmente as verbas destinadas ao INIC que, “num país como o Brasil, é órgão importantíssimo”.
Pimentel já abordara o tema na edição de 29 de abril do mesmo diário2, levantando a tese – sempre comparando Argentina e Brasil – de que os argentinos receberam muito mais imigrantes os brasileiros, porém o Brasil os fixa em maior quantidade.
Nesta edição, o autor reafirma sua tese de que o país precisa de imigrantes, sim, porém “muito principalmente de imigrantes europeus”, adiantando que “não se trata de racismo”.
Nas palavras dele: “O europeu tem muito mais afinidade com o brasileiro do que o asiático oriental. É cristão como nós e quase sempre católico. Fala o mesmo idioma ou um idioma muito mais semelhante ao nosso do que qualquer idioma asiático. Deixa-se assimilar muito mais fàcilmente. Os rapazes não mandam buscar noivas na Itália, Espanha, Portugal, Alemanha ou Hungria como os japonêses têm o péssimo vêzo3 de fazê-lo”.
E conclui: “Ora, não somos racistas. Mas não queremos quistos.”
NOTAS
1 Disponível em http://bit.ly/1vZrfx8
2 Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=089842_06&pagfis=105228&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#
3 Hábito, costume.
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