‘Imigração japonêsa em São Paulo predomina e mantém suas tradições’

Por Gustavo Barreto (*)
Trecho da edição de 7 de setembro de 1963 do 'Correio da Manhã'

Trecho da edição de 7 de setembro de 1963 do ‘Correio da Manhã’

A edição de 7 de setembro de 1963 do Correio da Manhã publica no ‘Segundo Caderno’1 – a editoria de cultura do diário – uma matéria sobre a manutenção das tradições japoneses em São Paulo. “Como as demais capitais, São Paulo apresenta em muitos recantos a aparência de lugares distantes, que são resultado das imigrações”, começa a matéria. A concentração de japoneses é tão grande, registro o Correio, que “vemos ruas com tôdas as características da terra do Sol Nascente. Todos os cartazes e letreiros são escritos em caracteres japonêses e os cinemas, nesses bairros, levam somente filmes de procedência do Japão”.

Observando que a imigração japonesa dirige-se “na sua quase totalidade para o Estado de São Paulo”, o jornal carioca – a matéria não é assinada – traz uma teoria para a adaptação dos japoneses: “Embora facilmente adaptável, o elemento imigrado do Japão é de difícil integração social, por lhes ser dificultoso um afastamento imediato das milenares tradições morais a que estão ligados. Hoje, porém, elas estão afastadas de todo, pois a própria contingência da vida moderna, forçando o desaparecimento das fronteiras continentais, anula a hipotese de não integração”. Ainda segundo o jornal, a “proliferação da raça, rápida e em grande número, criando grande quantidade de filhos nascidos no Brasil, contribuiu para que os jovens japonêses em contato com os brasileiros, arrastassem atrás de si, para uma integração rápida, os seus familiares”.

A matéria lembra a chegada, a Santos, em 1908, de 825 imigrantes japoneses, afirmando que desde então chegaram pouco mais de 231 mil “trabalhadores procedentes do Japão”. Foram poucos no início, registra a reportagem, contudo esse número subiu consideravelmente “depois de sustada a imigração qualificada européia, como conseqüência da primeira grande guerra, quando o nosso país arcava com dificuldades para manter o número de braços para sua lavoura, e, na Europa, se precisavam de braços para a reconstrução”.

Apesar da redução do número de imigrantes japoneses após a segunda guerra mundial, argumenta o jornal, em 1961 eles representavam 18% do total de imigrantes destinados a São Paulo. Sem citar fontes, o jornal registra também que cinco áreas concentravam 96,1% da população japonesa no Brasil: as demais eram norte do Paraná, Mato Grosso, Pará e Amazonas. São Paulo sozinha recebeu 75%, registra o diário. Além da capital paulista, eles estariam em maior número em Mogi das Cruzes, Suzano, Santo André, Guarulhos, Campinas, São Bernardo, Santos e São Caetano.

O jornal cita ainda as suas principais atividades, “segundo pesquisas recentes realizadas por amostragem”: 21% trabalharam na agricultura; 4% “trabalhadores qualificados”; outros 4% no setor de “vendas em geral”; 2,3% em bares ou restaurantes (como empregados ou proprietários); 2% no comércio atacadista; com porcentagens abaixo de 1% de profissionais liberais, pescadores, motoristas e em tinturarias.

A matéria informa ainda que a Associação de Cultura Japonesa em São Paulo estava elaborando, com orientação técnica do IBGE e com “recursos fornecidos pela própria colônia”, um “estudo de profundidade” sobre a imigração japonesa, contendo “características gerais da população nipônica, aspectos culturais, pormenorizado estudo econômico, dados referentes a casamentos, nascimentos, fertilidade e morte”.

NOTA

1 Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=089842_07&pagfis=43516&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *