Governo passa a administrar a hospedaria em São Paulo
O jornal A Província de S. Paulo registra em sua edição de 17 de fevereiro de 1889 que o governo é o novo encarregado da Hospedaria de Imigrantes na capital paulista. A encarregada era, até então, a Sociedade Promotora de Imigração, uma organização supostamente sem fins lucrativos, porém ligada ao setor cafeeiro1. “Foi a directoria da sociedade que solicitou excusa por excesso de trabalho”, informou o jornal paulistano.
A Sociedade Promotora continuará, acrescenta a Província, a existir até o fim do seu contrato para a introdução de imigrantes, “resolvendo depois o que fôr mais conveniente em relação a este ramo do serviço publico”. A Sociedade registra, por meio do jornal, que “poucos immigrantes ha a introduzir”, concluindo que “as pessoas que precisarem de trabalhadores devem apressar-se em tomal-os, porque de Março em diante cessará a introducção”.
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‘Violentissimos e calumniosos artigos’
Também na edição de 17 de fevereiro de 1889 do jornal A Província de S. Paulo, é feito um registro sobre dois “violentissimos e calumniosos artigos” publicados em dois diários belgas. Entre outras muitas “asseverações falsas”, os artigos afirmam que “os immigrantes aqui morrem á miseria e são subjeitos ao trabalho não compensado do antigo servidor escravo”, bem como “amarrados como porcos e violentamente separados de suas mulheres e filhos, são conduzidos á escravidão da fazenda”.
Nos artigos, conclui a notícia, os imigrantes estariam sendo aconselhados a “pôr-se em guarda contra a immigração para o Brazil, a qual não passa de puro commercio de carne humana”. A nota do A Província se limita a registrar estes trechos, sem mais detalhes ou uma resposta formal.
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Expulso da hospedaria de imigrantes em São Paulo, jornalista reage pela imprensa
Na mesma edição de 17 de fevereiro de 1889 do jornal A Província de S. Paulo, o jornalista Angeli Torteroli2 reclama de uma arbitrariedade que teria sido cometida contra ele na hospedaria de imigrantes, em São Paulo. Relata Torteroli ao jornal que havia ido à hospedaria para “escolher creadas e artistas”, visto que “a Inspectoria de Terras e Colonisação só aceita a encommenda de colonos”. Ao chegar à administração do local, o almoxarife teria dito a ele que, “por ordem do chefe de policia me vedava a entrada”.
“Não acreditando em tal ordem, entrei no estabelecimento”, disse ele, na carta publicada no diário paulistano. A polícia foi, então, chamada, e o jornalista obrigado a se retirar “em attenção a um meu amigo”, após alguma resistência à ordem. O almoxarife teria pedido que a polícia o perseguisse no bonde: “Ahi o furriel3 deu-me ordem de prisão. Não trazendo ordem escripta e não estando em flagrante delicto, declarei que não obedecia a ordem nem sahia do bond”. E completou: “O furriel foi communicar a minha resposta ao almoxarife e voltando disse: – Tudo fica em nada!?”
Como “protesto”, Torteroli declara “publicamente” que “desta data em deante todos os immigrantes me terão ao seu lado para requerer e exigir dos poderes competentes o respeito aos seus direitos, porque os mesmos sofrem arbitrariedades de tal modo que causam lastima”. E ainda promete voltar à hospedaria “afim de ver se póde ser vedada a entrada a um cidadão livre de culpa e pena, quando esse estabelecimento é publico e todos sabem que eu sou encarregado por muitos amigos para arranjar immigrantes”. O jornal se limita a publicar a carta do jornalista, sem informar detalhes sobre o contexto do ocorrido.
NOTAS
1 Detalhes sobre a Sociedade em http://bit.ly/VMfWHC
2 Um fato curioso: Torteroli é um dos principais nomes do espiritismo da época e sua obra defendia que o espiritismo era uma ciência, e não uma religião.
3 Posto militar.