Seriam os imigrantes que foram para São Paulo no início do século 20 “agitadores”? Um professor diz no ‘Opinião’ em 1975: não

Por Gustavo Barreto (*)
Semanário da imprensa alternativa Opinião, edição de 18 de julho de 1975

Semanário da imprensa alternativa Opinião, edição de 18 de julho de 1975

O semanário da imprensa alternativa Opinião1 publica em sua edição de 18 de julho de 19752 uma resenha de uma conferência do professor Michael McDonald Hall3, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), durante o congresso anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Intitulada Imigração e Classe Operária em São Paulo, 1900-1920, o resumo da apresentação, publicado por Opinião, começa da seguinte forma: “A lenda do radicalismo dos imigrantes há muito vem influenciando as interpretações da história da classe trabalhadora e do movimento operário brasileiro. Este ensaio propõe o reexame da hipótese segundo a qual, devido a sua origem européia, a classe trabalhadora de São Paulo demonstrou consciência de classe e militância exemplares”.

O trabalho, que foi baseado em pesquisas realizadas no Arquivo Leuenroth (Unicamp)4, no Instituto Internacional de História Social (Amsterdam)5 e no Archivio dello Stato (Roma)6, conclui que o radicalismo “não passa de um mito”, registra o Opinião, pois os imigrantes eram “de origem predominantemente rural e careciam de experiência política e industrial prévia”. O anarquismo exercia “pouca influência sobre eles”, acrescenta o resumo, ao passo que as rivalidades étnicas “impediam a organização e cooperação da classe trabalhadora”.

Além disso, argumenta o autor, muitos imigrantes acreditavam que sua permanência no Brasil era temporária e, por isso, buscavam sobretudo melhorias econômicas imediatas, em vez de mudanças sociais a longo prazo. Segundo argumenta no trabalho, os operários imigrantes raramente participavam na política e, enquanto estrangeiros, eram em grande medida incapazes de estabelecer alianças com outros setores da sociedade. O autor conclui: “Em resumo: a natureza imigrante da primeira geração do proletariado paulista constitui mais um empecilho do que um estímulo ao desenvolvimento da ação e consciência de classe”.

NOTAS

1 Vide http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/opini%C3%A3o

2 Disponível em http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=123307&pagfis=3219&pesq=

3 Vide http://www.ifch.unicamp.br/pos/historia/index.php?texto=michael&menu=menudocente

4 Vide http://www.ael.ifch.unicamp.br/site_ael/

5 Vide http://socialhistory.org/

6 Vide http://www.archiviocentraledellostato.beniculturali.it/

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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