Restrições à entrada de imigrantes nos EUA: empresários temem perder “cérebros” e “profissionais”
O jornal O Globo publica, em sua edição de 25 de agosto de 1995, uma matéria em destaque no caderno O Mundo afirmando que o governo dos EUA quer “selecionar” os imigrantes. A “ideia”, diz o diário carioca, é “fechar as portas” – não completamente, “mas significativamente”, reduzindo em quase um terço o número de pessoas legalmente autorizadas a residir no país. Com o “teto” de pessoas autorizadas a residir no país caindo de 830 mil para 585 mil, diz a matéria, “algo mais que a matemática” estaria por trás desse plano de política imigratória.
O país passaria a dar preferência a “três categorias de estrangeiros” – profissionais de “alto nível”, como cientistas, engenheiros etc; cônjuges de cidadãos americanos, sendo estes “no mesmo nível, mas numa quota menor”; e filhos menores de americanos que tenham nascido no exterior e crianças que já são residentes mas nasceram fora dos EUA.
A matéria informa que a medida já fora aprovada na Subcomissão de Justiça da Câmara de Representantes. “Os Estados Unidos continuarão sendo o país mais generoso do mundo na aceitação de imigrantes. Só que, ao contrário do que temos agora, colocarão em primeiro lugar os interesses dos trabalhadores e contribuintes americanos”, diz o autor do projeto citado pelo diário carioca, Lamar Smith, do Partido Republicano.
Segundo O Globo, os sindicatos dos trabalhadores locais apoiam o plano, mas os empresários acreditam que ele poderá “criar problemas para eles e para a própria economia americana”. A Associação Nacional de Indústrias e a Câmara de Comércio dos EUA “gostariam”, informa o jornal, que a nova lei mantivesse o teto de imigrantes, aumentando no entanto a cota dos “profissionais com habilidades especiais”. Dos 880 mil imigrantes que entraram legalmente nos Estados Unidos em 1994, informa o diário, “apenas 15% eram profissionais de alto nível”, sendo que 40% “sequer completou o ginásio”.
As empresas norte-americanas e, em especial, as do setor de alta tecnologia dependeriam, diz O Globo, de “cérebros estrangeiros para criar e desenvolver novos produtos”. Um exemplo, segundo o jornal: 46% dos diplomados em engenharia e física nos Estados Unidos eram, à época, estrangeiros. Se a nova lei entrasse em vigor, a maior parte voltaria para seus países de origem, onde “passariam a reforçar os quadros e as empresas adversárias no mercado internacional”. A matéria destaca um fator que destoa de outras matérias do tipo: os imigrantes qualificam os EUA, não apenas fazendo o trabalho braçal que muitos norte-americanas não gostariam de fazer.
Em relação aos brasileiros, a matéria destaca que de 1970 até a data da reportagem (1995) teriam se mudado legalmente para os EUA 65 mil brasileiros, com uma estimativa de que haveria, na verdade, 300 mil vivendo no país. Os EUA receberam legalmente um número grande de brasileiros no início da década de 1990 – pouco mais de 17 mil em três anos, informa a matéria –, mais do que o total de brasileiros legalmente estabelecidos no país durante toda a década de 1970.
Um infográfico informa, sem citação no corpo da matéria, que o número de imigrantes brasileiros é insignificante se comparado com países como México, China e Filipinas. Entre os dez países que teriam enviado mais imigrantes para os EUA – sem informar o período, deduzindo-se que refere-se a 1993 –, o Brasil aparece na posição de número 41. O infográfico – intitulado “O Eldorado dos descontentes” – informa também que cerca de 60,7 milhões de “imigrantes legais” teriam entrado nos Estados Unidos desde 1820, não citando a fonte da informação.