Ouvir vozes – o que é?

Por Gustavo Barreto (*)
Foto: BPS.org.uk

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Existe uma velha história, às vezes contada em forma de piada, acerca de “ouvir vozes”. Isso caracterizaria uma pessoa como “louca”, um sinal claro de delírio. O que pode ser o caso.

No entanto, existe uma diferença muito grande entre uma conversa que podemos ter com nosso inconsciente e essas vozes ouvidas por pessoas que estão “delirando”. Isso diz respeito, sobretudo, ao nível de saúde mental dessa pessoa, segundo a psicologia – e, sobretudo, a psicologia analítica.

Uma pessoa que ouve vezes como delírio está com um nível de saúde mental muito baixo, certamente sofrendo algum tipo de transtorno ou, melhor, uma dissociação, e assim o inconsciente (as “vozes”) tomam conta de sua vida, dada a fragilidade de sua consciência no momento.

Essa pessoa precisa, evidentemente, de apoio profissional, já que a tomada da consciência pelo inconsciente produz quadros efetivamente perigosos para a saúde da pessoa como um todo.

Outra coisa bastante distinta é a comunicação efetiva com o inconsciente, o que a maioria das pessoas classifica hoje como “intuição”.

Sobretudo de 100 ou mais anos para cá, a intuição foi desvalorizada de forma tão aguda que o materialismo tomou conta da maior parte das pessoas e, assim, o seu relacionamento com o si-mesmo – com o todo, incluindo o ‘eu’ e seu inconsciente – é muito ruim. A saúde mental dessa pessoa também não tende a ser boa.

Para aproximar esse conceito de todos nós, basta lembrar de quantas vezes sentimos um forte chamado para tomar uma decisão, ou para ligar para alguém, ou ainda uma forte intuição de que alguma coisa não estava bem com alguém.

Isso pode vir por meio dessas “vozes”, uma visão ou nos sonhos. São percepções interiores muito fortes para serem ignoradas. E todos nós temos experiências de que, muitas vezes, essa intuição se confirmou plenamente.

O materialismo contemporâneo elimina imediatamente – e perigosamente – essa função de nossas vidas, já que apenas relações causais são dadas como válidas. Em outras palavras, como racionais.

No entanto, é pouco “racional” – poderíamos dizer, para sermos ouvidos – ignorar esses chamados internos, sua intuição, em meio a tantas evidências de que essa “voz” é, frequentemente, um alerta para algo que não está bem na sua vida.

Poderíamos, então, trocar essas “vozes” por outras expressões, mas nunca deixar de perguntar: quantas vezes você ouve a si mesmo?

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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