O tecnicismo vai muito bem, obrigado
O determinismo tecnológico já fez, sabemos, muitas e muitas vítimas durante suas décadas e décadas de existência. Impressiona, no entanto, que continue tão presente, mesmo depois de anos e anos de experimentação coletiva das novas ferramentas à disposição.
Uma das fábulas mais contadas por aí sobre a tecnologia é de que esta resolverá problemas que antes, por conta da ausência destas maravilhas performáticas, nunca poderíamos resolver.
A existência humana está repleta de falsas promessas e, desconfio, a maior e mais recente delas é a de que as pessoas ficarão mais próximas umas das outras, a partir dos aparatos tecnológicos.
Pois bem. Cá estamos, 20 anos após as primeiras transmissões públicas de informações via Internet. Pouco mudou. Intolerância, falta de cooperação internacional, guerras civis e racismo são apenas algumas das evidências do que é óbvio: sem valores primordiais como justiça social ou educação emancipadora, não há ferramenta que consiga dar conta de problemas que não são técnicos, mas sociais. Mas os tecnicistas nunca se darão por vencidos: dirão que alguns dos muitos progressos que obtivemos são – glória Web! – por conta da Santa Divindade, a Internet (ou o Celular, ou o Computador etc.)
Reconhecer que avanços sociais são sobretudo sociais, com apoio das ferramentas que a humanidade cria (e que sempre criou, aliás) – é uma das heresias que não se pode dizer por aí. Sobretudo dentro das igrejas pós-modernas. O bilhão de pessoas conectadas em redes sociais continua, em grande parte, a desconhecer o cotidiano do bilhão de pessoas que passa fome diariamente.
O sonho da aldeia global continua sendo alimentado. E, com ele, os falsos profetas e os oportunistas de plantão. Todos muito bem, obrigado.