‘O Japão manda para o Brasil os seus melhores imigrantes’: visita pelo cinquentenário da imigração japonesa

Por Gustavo Barreto (*)
Primeira parte de matéria no Correio da Manhã de 5 de agosto de 1958

Primeira parte de matéria no Correio da Manhã de 5 de agosto de 1958

O Correio da Manhã de 5 de agosto de 19581 registra uma visita de parlamentares japoneses ao Brasil, em um aparente esforço de propaganda para destacar as boas relações dos dois países no que diz respeito à imigração. “O Japão manda para o Brasil os seus melhores imigrantes”, diz uma das chamadas da matéria.

Os senadores e deputados em visita fizeram uma coletiva de imprensa na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na então capital Rio de Janeiro, acompanhados justamente por um deputado brasileiro chamado Yukisshigue Tamura – filiado ao Partido Social Democrático (PSD) de São Paulo, sigla que seria extinta pela ditadura militar por ocasião do Ato Institucional número 2 (AI-2), em 1965.

“[Os parlamentares] disseram da sua satisfação em retribuir a visita que uma delegação parlamentar brasileira fêz ao seu país, recentemente, em comemoração ao cinqüentenário da imigração japonêsa em nosso país”, registra a matéria. A “caravana nipônica”, diz o Correio, é integrada por parlamentares situacionistas e oposicionistas, registrando que a visita é apenas “de cortesia”, sem credenciados para efetivar negociações comerciais. A matéria registra que os japoneses visitariam ainda Argentina, Chile, Peru e Austrália.

O jornal carioca registra ainda que os parlamentares disseram que estão “muito gratos em que o Brasil receba com boa vontade imigrantes japonêses”. Citando os visitantes, conclui: “Desejamos enviar para aqui os melhores imigrantes a saírem do Japão”. Os jornalistas questionaram como se sentiam os japoneses aqui residentes, com o chefe da missão redirecionando a pergunta para o deputado brasileiro Tamura – filho de japoneses, segundo o Correio –, que afirmou: “(…) o Brasil é a melhor Pátria que os imigrantes japonêses podiam encontrar. Se pudessem regressar ao seu país, nenhum deles concordaria em deixar o Brasil”.

Tamura afirmou que, “após 90 anos de imigração, era a primeira vez, em tôdas as Nações do mundo, que um filho de imigrante japonês alcançava a honra de ser um deputado federal, já existindo pelo interior do país mais de 100 vereadores, além de prefeitos, também filhos de japonêses, que compartilhavam da mesma oportunidade de, através [de] representações políticas, servir ao Brasil, o que ainda não ocorrera em nenhum outro país”.

A dificuldade de adaptação por conta da diferença do idioma foi um dos temas discutidos, com o chefe da missão registrando que “existem movimentos para a simplificação do nosso idioma”, porém que “achamos que a nossa língua têm um sabor especial…”.

Sobre a bomba atômica, que “matou 250 mil japoneses desarmados”, registra o jornal que os “filósofos e o povo nipônicos não guardam qualquer rancor dos americanos, segundo os entrevistados, vendo em Hiroshima e em Nagasaki o sacrifício de milhares de inocentes em pról da paz em todo o mundo, para benefício de todos os povos”.

Na “mensagem ao povo brasileiro” da missão, entregue por meio da imprensa, os parlamentares registram o cinquentenário da imigração japonesa afirmando, em um tom talvez exageradamente cordial, que “sentimos imenso prazer em poder constatar pessoalmente as atividades de cidadãos brasileiros de descendências japonêsa nos diversos setores da vida brasileira” (sic), afirmando ainda estarem “envaidecidos pela contribuição da colônia japonêsa ao desenvolvimento do Brasil e, ao mesmo tempo, tributamos nosso profundo respeito e admiração pelo espírito de generosidade do povo brasileiro, que possibilita livre atividade de nossos patrícios neste país”.

NOTA

1 Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=089842_06&pagfis=94642&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *