Trata-se de uma “ameaça permanente contra a eugenificação da raça e mesmo contra a propria segurança pessoal”, diz o Dr. Xavier de Oliveira na Academia Nacional de Medicina.

Um “alerta” vem das páginas de O Globo em sua edição de 9 de setembro de 1932: é muita alta a proporção de imigrantes psicopatas no Brasil. Trata-se de uma descoberta “científica”: quem diz é o renomado Dr. Xavier de Oliveira – “um dos nossos maiores investigadores dos phenomenos psychopathologicos em toda a sua extensão”, segundo descreve o diário.

Em palestra na Academia Nacional de Medicina, Oliveira falou sobre seus estudos sobre o “caso frequente de immigrantes psychopathas que affluem ao Rio”, como uma “ameaça permanente contra a eugenificação da raça e mesmo contra a propria segurança pessoal”. Além disso, escreve O Globo, são “elementos de inactividade e de consumo sem compensação representados por homens que pela sua origem e pelos motivos, mesmo, de sua chegada aos nossos portos, só aqui, poderiam ser recebidos, depois de provada a sua efficiencia economica pela demonstração do perfeito funccionamento de todos os seus orgãos e systemas” – entre os quais a “hygidez mental”.

As considerações do jornal, ressalta o autor do texto, são todas feitas “dentro do rigor scientifico proprio do conferencista e adequado á assembléa de doutos para os quaes falou”. O objetivo do relato, explica o jornal, é “tornar palpaveis aos olhos dos leigos a grandeza e a importancia do problema”.

Com base na conferência do especialista da época, que tratou do tema “com todo o rigor da technica scientifica”, o jornal divulgou a resolução do 3^o Congresso Brasileiro de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal. “Verificou esse Congresso ser muito elevada a quota de psychopathas entre os immigrantes estrangeiros no Brasil, que as suas desordens mentaes costumam explodir geralmente dentro de seis mezes após a chegada ao Brasil e que uma das causas disso é a falta de selecção mental dos alienigenas immigrantes”, relatou O Globo.

O Congresso pede, então, que seja respeitada uma lei de 1921 que “prohibe a entrada de alienados no Brasil”, com o “accrescimo de varios complementos que augmentam a acção e a efficiencia da lei referida”. Segundo os dados estatísticos fornecidos pelo Dr. Xavier de Oliveira, de 1920 a 1925 a “Assistencia a Psychopathas” atendeu 5.307 “alienados”, sendo que 20% eram estrangeiros. Em São Paulo, alertou o jornal, “a morbidez mental é mais elevada ainda, pois attinge a 22 por cento”.

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)