Determinismo tecnológico e os acadêmicos de plantão
Os “acadêmicos” de plantão nas grandes redações precisam ter um pouco mais de rigor científico. Andaram divulgando por aí, com enorme felicidade, que “96% das informações novas (nunca noticiadas até então) surgem em meios tradicionais (jornais, revistas, TV, rádio)” e que as novas mídias não colaborariam tanto assim para a disseminação das tais “informações novas”.
A tentativa de dizer “Não disse!” é meio infantil. Vamos a outras considerações.
01. Não é novidade que os grandes meios pautam as novas mídias. Estudos sérios, que fogem ao determinismo tecnológico comum em tempos de febre de Internet, já demonstravam isso desde o final da década de 90.
02. Mas o que os grandes meios pautam não é o pensamento das pessoas, e sim a agenda pública. E mesmo assim com limitações que aumentam à medida que o uso social da Internet se complexifica.
03. É preciso ressaltar as limitações culturais: o Pew Research Center (responsável pelo estudo) analisou, por uma semana, o conteúdo produzido por 53 publicações em Baltimore (no Estado de Maryland, ao lado de Washington).
04. Segundo a própria Folha (que publicou a matéria sob a editoria “Dinheiro”, estrategicamente), a pesquisa afirma que 17% das reportagens em todos os meios têm conteúdo novo, enquanto o restante é “essencialmente repetitivo, não trazendo nenhuma informação exclusiva”. E que são, portanto, as reportagens inovadoras “que tendem a determinar a agenda de relatos por parte da maioria dos outros veículos”.
05. Uma outra questão que devemos nos perguntar: as “informações novas” são efetivamente as melhores? É um questionamento básico, fundamental: quem disse que reside na novidade a qualidade?
06. Uma outra tendência que nunca seria destacada por um meio de grande circulação é a de que há “uso de conteúdo alheio sem citação de crédito”. Na própria Folha: “Encontramos vários exemplos de sites com trabalho de outras pessoas sem que fosse citado o autor e, muitas vezes, sugerindo que havia apuração própria do veículo, quando isso não ocorreu.” Como sempre se soube, não são apenas os geeks e blogueiros que possuem esse péssimo hábito de copiar sem citar, não é mesmo?
07. E o pior: “esqueceram” de registrar estudo do mesmo Pew Research Center indicando que, em dezembro de 2008, a Internet ultrapassou os jornais como a principal fonte de notícias (porém ainda perde para a TV). (leia aqui o estudo)
Evidente que, justamente nos cadernos de economia, não cairiam bem publicar tal realidade. E o mais curioso deste estudo é uma das tendências demonstradas: entre os jovens, os índices da TV e da Internet como principal fonte de notícias já estão empatados.
Portanto, cabe sim uma crítica à Internet como uma ferramenta redentora dos males sociais (não o é) ou como fonte inovadora de conhecimento. Mas muito se parecem os jornalistas que ficam propagandeando os jornais e demais mídias tradicionais, de um lado, e outros apologistas do determinismo tecnológico.