A posição republicana pró-imigrantes europeus e pela abolição
O diário A Província de São Paulo – atual OESP – usava suas páginas para defender as posições republicanas em relação ao tema da imigração, sempre de acordo com os interesses dos empresários vinculados ao Partido Republicano Paulista ou a outros movimentos republicanos. É o caso do artigo datado de 12 de março de 1886, assinado pelo empresário e político Martinho Prado Júnior – avô do historiador e também político marxista Cado Prado Júnior. Martinho foi um notável defensor da abolição dos escravos e um dos maiores produtores de café do mundo, com fazendas na região de Ribeirão Preto.
Em seu artigo, em que faz reivindicações bem objetivas, citando inclusive problemas relacionados à colonização em suas fazendas, Martinho relata longamente as múltiplas dificuldades em atrair imigrantes e critica severamente o governo pelo descaso em relação ao tema. Martinho defende objetivamente, neste texto especificamente, o aumento do auxílio do governo para cada imigrante.
Conta Martinho que muitos imigrantes vinham iludidos para o porto de Santos, achando que poderiam, dali, ir para qualquer parte do país, subsidiados pelo governo. Muitos, conta, buscavam se integrar a suas famílias já residentes no Brasil. Em muitos casos, um serviço de introdução de imigrantes em São Paulo acabava por gerar uma intensa imigração para o sul – a maioria dos imigrantes era italiana, com famílias no Rio Grande do Sul –, com quase ninguém ficando em São Paulo. “Lá”, afirma o autor, “esmolam pelas ruas dos povoados, porque não haviam lotes medidos, conforme li nos jornaes da provincia”.
“Isto tudo devido á precipitação e inepcia dos intitulados estadistas brazileiros, homens apenas theoricos e de uma incapacidade administrativa notavel”, dispara Martinho contra o “governo que tudo promette e nada faz”. E acrescenta: “Souberam, porém, tirar vantagem deste desastre nossos visinhos do Prata, tomando toda essa gente [imigrantes que ficaram num limbo nos portos] e transportando-a gratuitamente, de sorte que concorremos para que em 1885 mais se avolumasse a já extraordinaria immigração para Buenos-Ayres”.
Martinho pede, portanto, dentro ou à margem da lei, mais subvenção para os empresários, que estariam tendo prejuízos com a atração de imigrantes, adotando uma posição clara pela abolição da escravidão e em favor da imigração (europeia): “Só ha neste paiz uma politica sabia, previdente e compativel com a dignidade e grandeza da America, a que acabar com a escravidão e cuidar da immigração. Tudo o mais é pequeno, esteril e ridiculo no momento actual”.