O jornal Imprensa Evangelica registra, em sua edição de 5 de fevereiro de 1887¹, a informação de que o bispo de Olinda protestou contra o “abuso de casamentos acatholicos em sua diocese”, pedindo providências e sugerindo “algumas medidas afim de reprimir essas cerimonias autorisadas pelos pastores dissidentes”.

O periódico protestante se questiona: “O que entenderá o bispo de Olinda por abusos, na celebração de actos, que estão fóra da lithurgia pela qual ella se rege? Que direito de inspecção é esse que presume ter sobre os pastores dissidentes o prelado da religião contra a qual essas seitas protestaram? Se o cerimonial catholico é preenchido a contento dos religionarios acatholicos, porque se arvora em fiscal de um culto que não é o seu, o bispo da egreja pernambucana?”

O Imprensa Evangelica argumenta existir uma pretensão de domínio incompatível “não sómente com o espirito do seculo, mas com a lettra da Cosntituição do Imperio”. E acrescenta, utilizando a política imigratória como argumento: “Em um paiz que trata de obter immigrantes acatholicos essa tibieza do poder civil em face de uma pretensão abusiva do poder ecclesiastico, póde gerar pelo menos desconfianças”.

Na mesma página, em um debate sobre um editorial de uma publicação “papal”, o períodico registra: “Debaixo da soberania corrupta da chamada egreja romana o povo, em massa, tinha-se corrompido, e a reação contra esta corrupção é o protestantismo: o povo protestou contra a rapacidade e o poderio do dominio papal”.

NOTA

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)