1984: Uruguaios voltam ao seu país para votar; antes, atos na Cinelândia e Sindicato dos Bancários do Rio

Por Gustavo Barreto (*)
Trecho da página 11 do jornal Última Hora de 20 de novembro de 1984

Trecho da página 11 do jornal Última Hora de 20 de novembro de 1984

O jornal Última Hora publica, em sua edição de 20 de novembro de 19841 – uma terça-feira –, informações sobre o retorno das instituições democráticas, após 11 anos de ditadura2. O enviado do jornal a Montevidéu, Raúl Ronzonio, informa que os dois principais partidos que disputam a Presidência têm “escassa margem de diferença”, com os indecisos desempenhando um papel fundamental. Uma das “forças”, informa o jornal, são os emigrados: “Calcula-se que quase 50 mil uruguaios chegarão ao país nos próximos dias para votar”.

Vindos do Brasil, diz o Última Hora, devem ir cerca de 10 mil uruguaios. O total de emigrados representam cerca de 2% dos eleitores, informa o jornal. Dos 300 mil imigrantes que viviam no exterior – ou 10% da população uruguaia –, 7% viviam no Brasil, diz a matéria. Um dos destaques do jornal é o de que 80 refugiados deixariam em breve o país em dois ônibus rumo a Montevidéu para participar do processo eleitoral, que seria no domingo seguinte. Segundo o jornal, “pretendem votar no candidato à Presidência pela Frente Ampla”, considerada pela matéria menos radical do que o Partido Blanco.

Antes de embarcar, informa a matéria, os uruguaios citados fariam um ato público na Cinelândia, no Rio de Janeiro, e esperavam que as Forças Armadas do Uruguai não criassem problemas “após ultrapassarem a fronteira”, algo que fora prometido pelas autoridades para os uruguaios. O Sindicato dos Bancários do Município do Rio de Janeiro foi sede de uma festa promovida por um grupo de refugiados uruguaios, registra o jornal, “assinalando os quatro anos e meio da existência do Movimento Popular, criado no exílio para contestar o regime militar”.

NOTAS

1 Disponível em http://memoria.bn.br/pdf2/386030/per386030_1984_11444.pdf

2 O marco que dá início à ditadura no país é 27 de junho de 1973, os detalhes em http://bit.ly/1t4GvEO

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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