Suíços chegam ao “agradavel e fertilissimo terreno de Nova Friburgo em Morro Queimado, no districto de Villa de S. Pedro de Cantagallo”

Por Gustavo Barreto (*)
Trecho da capa da Gazeta do Rio de Janeiro, que era publicado sob censura da Corte portuguesa, em sua edição de primeiro de dezembro de 1819.

Trecho da capa da Gazeta do Rio de Janeiro, que era publicado sob censura da Corte portuguesa, em sua edição de primeiro de dezembro de 1819.

A Gazeta do Rio de Janeiro, jornal editado por redatores designados por D. João VI, registra em sua edição de 6 de novembro de 18191 a chegada, dois dias antes, de 197 suíços “dos que Sua Magestade Houve por bem mandar vir”, destinados ao “agradavel e fertilissimo terreno de Nova Friburgo em Morro Queimado, no districto de Villa de S. Pedro de Cantagallo”, com as “mais sabias e liberais providencias”. O jornal anuncia também a chegada de outros 26 suíços que chegaram espontaneamente no mesmo dia em outra galera (embarcação).

A edição de 1o de dezembro2 do mesmo ano volta a mencionar o tema, igualmente em tom informativo: após 72 dias de viagem chegaram no dia 26 de novembro outros 233 colonos suíços – entre homens, mulheres e crianças, diz a publicação – destinados a “povoar e cultivar o riquissimo terreno de Nova Friburgo, segundo mencionamos no nosso N.o 89”. A Gazeta completa: “Desembarcão todos pela manhã do dia seguinte ao da sua chegada, e já se achão em Tamby primeiro lugar destinado para repousarem do incommodo e enjoo da viagem”.

Cabe notar que a Gazeta dá mais atenção a temas internacionais. Na edição de 11 de dezembro, por exemplo, a publicação anuncia a chegada de outros 228 suíços, também para Nova Friburgo3, em apenas 4 linhas e sem grandes detalhes. Na edição de 18 de dezembro, novo anuncio da chegada de 432 suíços, como sempre vindos de Roterdã.

Na edição de 11 de dezembro, logo no início do jornal, os editores comentam que em várias cidades da Alemanha foram “suscitados” vários “tumultos” contra judeus, que para “evitarem os seus funetos effeitos tem emigrado em grande parte”. A França, completa o jornal, ao “agasalhar esses foragidos”, promove sua indústria, algo considerado pelos editores positivo “nas suas actuas circunstancias”. Tanto as notícias locais quanto as internacionais (estas em maior número) são publicadas, nesta edição de 11 de dezembro de 1819, na seção “Rio de Janeiro”. Na edição do dia 18, a única nota nesta seção é a da chegada dos suíços – indicando um certo descaso com os critérios das seções –, sendo as demais internacionais, publicadas com o nome dos respectivos países como título.

Importante destacar que a travessia dos primeiros suíços para Nova Friburgo foi marcada por diversas tragédias, com diversos deles morrendo ainda na viagem e muitos morrendo antes da chegada à cidade ou pouco após. Este será um tópico de outro texto.

NOTAS

1Disponível em http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/gazeta_rj/gazeta_rj_1819/gazeta_rj_1819_089.pdf

2Disponível em http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/gazeta_rj/gazeta_rj_1819/gazeta_rj_1819_096.pdf

3Disponível em http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/gazeta_rj/gazeta_rj_1819/gazeta_rj_1819_099.pdf

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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