Governo da França quer “imigração escolhida”; no Brasil, uma nota registra a chegada de palestinos

Por Gustavo Barreto (*)
Edição de 21 de setembro de 2007 do jornal O Globo: debate sobre a França com destaque; sobre o Brasil, uma nota de registro.

Edição de 21 de setembro de 2007 do jornal O Globo: debate sobre a França com destaque; sobre o Brasil, uma nota de registro.

A edição de 21 de setembro de 2007 do jornal O Globo destaca a guinada anti-imigração na França, uma promessa de campanha do presidente recém-eleito Nicolas Sarkozy. Os deputados aprovaram um projeto de lei que lança, registra o diário, uma série de barreiras aos imigrantes, criando um dispositivo que O Globo classifica como “polêmico”: o teste de DNA para estrangeiros que desejam morar com seus familiares já residentes na França. O presidente francês anunciou ainda que criaria “cotas para imigração, por profissão, por categoria e por região do mundo”.

O governo francês sustentou que há um “comércio fraudulento de imigração” no país, com o estrangeiro legalizado pedindo para trazer o resto da família e, “em certos casos, não é família”. O teste genético, argumenta o governo, só seria exigido “em caso de sérias dúvidas”, registra o diário carioca.

As novas barreiras do projeto, que dependia ainda de uma aprovação no Senado, exigiria que todo estrangeiro maior de 16 anos que peça para se unir a um familiar na França seja submetido a um teste de francês e sobre os “valores da República”. Sarkozy adota um posicionamento antigo dos governos: defende o que chama de “imigração escolhida”, registra O Globo – ou seja, quer favorecer a “imigração econômica, e nos setores que pode empregar”.

A matéria registra as regras – em 2007 – em outros países europeus para a entrada de familiares de imigrantes. Na Espanha, por exemplo, apesar de o exame de DNA ser voluntário para filhos e pais estrangeiros, acaba por facilitar o processo de concessão de visto. Na Alemanha, no caso de marido e mulher, só é permitida a entrada do que vive em outro país se o casamento foi feito antes de o imigrante obter residência legal no país.

Na Itália, o pedido de visto deve ser feito pelo parente residente, se estiver em situação legal. Portugal pede “documentos traduzidos que comprovem os laços de parentesco”, enquanto o Reino Unido – assim como todos os citados acima – também não pede exame de DNA e “estuda formas de conceder vistos para filhos adotivos e parceiros de uniões estáveis entre homossexuais”.

Na mesma página, porém com muito menos destaque, o jornal registra a chegada, ao Brasil, de palestinos que fogem da guerra no Iraque. “Primeiro, eles fugiram do conflito com israelenses. Agora, buscam no Brasil a paz que não encontraram no Iraque”. O diário registra a chegada ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, do primeiro grupo de cerca de 40 refugiados palestinos que viviam no campo Ruweished, na Jordânia. Segundo a matéria, eles serão instalados em cidades no interior de São Paulo e do Rio Grande do Sul, cujos nomes não foram revelados para não prejudicar a adaptação.

Ao todo, registra a matéria, 117 palestinos do mesmo campo virão ao Brasil como parte do Programa de Reassentamento Solidário, implementado pelo governo brasileiro com o apoio da agência da ONU para a questão dos refugiados (ACNUR) e organizações não governamentais parceiras. A matéria registra que o governo de Saddam Hussein, deposto em 2003, apoiava os refugiados palestinos que fugiam do conflito israelo-palestino. Após a queda de Saddam, passaram a ser perseguidos por milícias.

Ainda na Jordânia, registra a matéria, os palestinos tiveram aulas de português. “Entre os grupos vítimas do conflito no Iraque, os palestinos são os mais vulneráveis, já que não têm uma pátria e, em muitos casos, sequer documentos de viagem”, afirmou ao Globo o representante do ACNUR à época, Luis Varese.

Observa-se que a matéria não traz nenhum tipo de contextualização – como faz a anterior, sobre a França, publicada na mesma página –, muito menos uma análise aprofundada sobre a questão da imigração ou do refúgio no país. Não é uma matéria, na verdade, pois a foto ocupa a maior parte do espaço destinado ao registro. Mais adequado seria chamar de “nota” – sem a mesma preocupação com o tema, se comparado com a situação no país europeu.

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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