Gazeta de Petrópolis (1895): Imigrantes são responsáveis por 85% dos crimes; os outros 15% foram de brasileiros brigando com eles

Por Gustavo Barreto (*)

Jornal Gazeta de Petrópolis de 18 de setembro de 1895

O jornal Gazeta de Petrópolis de 18 de setembro de 18951 reproduz artigo do jornal Municipio, de São Paulo, criticando o atual sistema de imigração assalariada, observando que a quase totalidade dos 600 mil imigrantes recentemente introduzidos no país são italianos. Entre os países europeus, diz o jornal, permitem a imigração para o Brasil apenas Itália, Espanha e Portugal. “Todas as outras nações prohibem terminantemente a immigração, emquanto durar no Brazil a lei que permitte a immigração assalariada”, afirma o artigo, criticando a imigração subvencionada pelo Estado.

A Inglaterra, diz o diário, afixou em agências do correio e telégrafo o seguinte aviso: “Triste sorte espera no Brazil os immigrantes que tiveram que partir para substituir os escravos!”. A Bélgica teria considerado a imigração “paga por cabeça”, ainda segundo o jornal, uma “pescaria de carne humana, que só aproveita aos contractantes”. A França estaria adotando medidas rigorosas, “sendo os agentes presos e processados sem formalidades”, enquanto que a Alemanha estaria impedindo o embarque de nacionais até mesmo a partir de outros países, como na Bélgica.

O jornal, citando um relatório “do distincto Dr. Piza” – não informando no entanto seu cargo –, passa a criminalizar os imigrantes. Segundo o documento citado pela Gazeta de Petrópolis, 85% dos crimes dos últimos três anos foram praticados “por esses immigrantes”, sendo que os brasileiros – responsáveis pelos demais 15% – o fizeram “provavelmente em brigas com aquelles, que lhes tomam o lugar”. O diário reclama ainda de supostos 32 mil imigrantes que entraram “sem profissão alguma”, bem como dos mendigos, órfãos e crianças abandonadas pelos pais, criando um “abysmo no meio de nossa sociedade”.

O diário acusa ainda os imigrantes de serem os responsáveis pelo acréscimo da população nas cidades, após terem recebido benefícios para se dirigir às lavouras, criando diversos cenários espalhafatosos – como a sugestão de que há mais estrangeiros que nacionais, ou ainda a de que São Paulo poderia se tornar independente do Brasil, passando os imigrantes a governar o estado com autonomia.

Para o editorial, que pede o fim da imigração subvencionada (ou assalariada, como chamam), a política migratória da subvenção só beneficia alguns municípios e fazendeiros, indiferentes aos problemas nacionais “comtanto que tenham braços importados cada anno, á custa do Estado”. Outra tese defendida pelo jornal é a de que o governo paga a imigrantes que já entrariam espontaneamente para São Paulo.

NOTA

1 Vide http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=304808&pagfis=1481&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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