Finalmente uma abordagem mais profunda sobre a imigração – no caderno de vestibular…

Por Gustavo Barreto (*)
Folha de S. Paulo, edição de 17 de janeiro de 1989

Folha de S. Paulo, edição de 17 de janeiro de 1989

O caderno de vestibular do jornal Folha de S. Paulo publica, em sua edição de 17 de janeiro de 1989, as provas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Uma das questões da prova de História trata da imigração:

“Em 1920, um jornal anarquista de São Paulo definiu dessa forma o proletariado urbano: “É verdade que muitos militantes anarquistas, entre nós, são estrangeiros, não nasceram no Brasil. Mas isso nada tem de extraordinário. País essencialmente de imigração, vivendo as suas indústrias principalmente do braço e da inteligência do imigrante, é naturalíssimo que os centros de maior população operária no Brasil contenham forte e predominante porcentagem de estrangeiros” (A Plebe, 17 de abril de 1920)”

A resolução da questão, tal como transcrita, é a seguinte:

“A imigração estrangeira para o Brasil está inserida na transição do escravismo para o trabalho assalariado, processo que se acelera na segunda metade do século XIX; em suma, no momento em que surge, tardiamente, o modo de produção capitalista no Brasil. A carência de mão-de-obra para a cafeicultura e os problemas do capitalismo europeu (Grande Depressão) nas últimas décadas do século XIX trouxeram para o Brasil centenas de milhares de imigrantes, especialmente italianos”.

O texto continua:

“A tendência à vida urbana do imigrante vai lançá-lo em busca das principais cidades, como São Paulo que, no início do século XX, passa a liderar a industrialização nascente. O proletariado urbano forma-se a partir daí, compondo com o elemento nacional marginalizado a massa operária dos centros industriais da época, influenciados pelo anarquismo, pelo anarco-sindicalismo e, no limite, pelo socialismo, herança do próprio imigrante europeu”.

Apesar de a História não ser uma área exata e, portanto, a resolução da questão ser um tópico para debate, é curioso notar que esta publicação – o gabarito de uma prova de vestibular – é uma das poucas, em décadas, que aborda mais profundamente a questão da imigração na imprensa.

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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