“As sobras demográficas da Itália bastariam, por si só, para garantir a realização do vasto plano imigratório” (1949)

Por Gustavo Barreto (*)
Editorial do A Noite de 24 de fevereiro de 1949 (trecho)

Editorial do A Noite de 24 de fevereiro de 1949 (trecho)

Quatro dias após artigo de Carlos Lacerda no Correio da Manhã atacando a política imigratória, o governista A Noite publica, no dia 24 de fevereiro de 19491, um editorial com o título “O problema da colonização e o Brasil Central”, argumentando que a região tem “fundamentalmente” um problema de povoamento, em meio à escassez de pessoas para as atividades agropecuárias.

O jornal reproduz, na verdade, o ponto de vista do então governador de Goiás, Coimbra Bueno, elogiando amplamente suas “iniciativas de cunho prático” sobre o tema. Bueno chamara a atenção, diz o editorial, para as “grandes possibilidades que Goiaz oferece à imigração estrangeira”.

Entre as medidas adotadas pelo governo de Goiás, escreve o A Noite, destaca-se um acordo assinado com uma organização italiana “para a instalação naquele grande Estado Central de doze mil famílias de colonos peninsulares, mediante a criação de núcleos cooperativistas, de 1.500 a 2.000 famílias”, que deveriam ser constituídas “exclusivamente de agricultores com comprovada capacidade profissional”.

Em evidente resposta às críticas frequentes à administração federal neste tema, o editorial, usando um tom pró-ativo, afirma que o plano de Goiás “se entrosa no que foi elaborado pelo Conselho Nacional de Imigração e Colonização visando resolver o problema imigratório brasileiro”, com o governador demonstrando, com as medidas que tomou para atrair “grandes levas de agricultores italianos”, que trata-se de um “problema cuja solução pode ser encaminhada desde já, sem sair dos limites do programa traçado pelo Govêrno Federal e sem quebra do dispositivo constitucional relativo às concessões de terras”.

Pode-se prever, acrescenta o editorial, o que a “continuidade de um programa dêsse alcance representará para o crescimento demográfico do Brasil”, com a possibilidade de receber “centenas de milhares de imigrantes” sem que tenhamos que abrir mão do “salutar critério de seleção dos elementos mais úteis e capazes”. E conclui: “As sobras demográficas da Itália bastariam, por si só, para garantir a realização do vasto plano imigratório”.

NOTA

1 Disponível em http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=348970_04&PagFis=56938&Pesq=

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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