Argentina é ‘campo fértil’ para ‘perturbações communistas’, com forte influência de ‘agitadores’ italianos entre os imigrantes

Por Gustavo Barreto (*)
JB, 6 de outubro de 1927

JB, 6 de outubro de 1927

A editoria de Internacional de 6 de outubro de 1927 do Jornal do Brasil traz um registro sobre documentos que o governo chinês teria publicado a respeito das “actividades communistas na América do Norte e do Sul”. O país onde a “ameaça” seria maior: a Argentina. Segundo o JB, “dous terços dos comités centraes dos trabalhistas de Buenos Aires são compostos de communistas que estão promptos para influenciar num momento opportuno na organização dos trabalhadores argentinos”.

Os documentos, diz o diário carioca, apontam que a República Argentina é um “campo fértil” para essas “perturbações communistas”, havendo um “trabalho especial feito por esses agitadores entre os immigrantes”. O JB cita transcreve trecho do documento chinês: “Desde 1921 a emigração para a Argentina tem crescido constantemente. Desde que Mussolini subiu ao poder cerca de 120.000 italianos emigraram para este pais”.

“O partido communista”, acrescenta o documento, “mantem uma commissão especial que trabalha entre estes emigrantes. Os communistas emigrantes estão organizados em grupos conforme as suas línguas e existem italianos, russos, bulgaros e hebreus”. Informações deste tipo na imprensa brasileira estão inseridas em um contexto de temor, a este momento já antigo, de que imigrantes “agitadores” possam se infiltrar no Brasil. A influência comunista entre os estrangeiros, e sua consequente repercussão entre os diversos setores da sociedade e diferentes governos, é uma constante na História brasileira.

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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