A xenofobia em Paris: um protesto do Jornal do Brasil

Por Gustavo Barreto (*)
Trecho do Jornal do Brasil de 12 de setembro de 1925

Trecho do Jornal do Brasil de 12 de setembro de 1925

O Jornal do Brasil de 12 de setembro de 1925 alerta que, em Paris, estaria ocorrendo uma campanha principalmente dos “poderes municipaes” contra os estrangeiros ao dificultar “a permanencia desse elemento, considerado indesejavel, pelo falso pressuposto de que a carestia da vida é uma consequencia da afluencia de estrangeiros os quaes contribuem com a sua moeda valorisada para mais depreciar o franco”. Mesmo não falando sobre o tema em território brasileiro, neste texto especificamente, vale destacar a linha de argumentação, dado que o debate sobre a imigração é intenso neste período.

O texto, aparentemente um editorial, destaca que a influência dos estrangeiros não atinge os preços de gêneros de primeira necessidade – apenas, eventualmente, os itens de luxo. “Admittiriamos a subida das bebidas finas, vendidas nos logares onde a gente se diverte. E só se diverte em logares chics quem póde gastar. A affluencia de estrangeiros nesses pontos poderia despertar a vontade de exploral-os”, afirma o artigo, acrescentando: “Mas que prejuizo adviria á massa da população?”

Citando dados fornecidos por um diplomata brasileiro, o Jornal do Brasil argumenta que “a estatistica prova que só a colonia brasileira residente e os brasileiros de passagem contribuem com cerca de 300 milhões de francos annuaes para a prosperidade de Paris”. Se os 3 mil brasileiros que moram em Paris e os outros 2 mil de passagem deixam esta quantia no comércio local, diz o diário carioca, “quanto não deixarão as colonias estrangeiras, na sua collectividade, e os estrangeiros dos varios paizes, que não viajam sem ir á capital do mundo?”

O editorial conclui: “A xenophobia dos francezes terá outra causa, nunca esta publicamente confessada”. Citando o problema da especulação financeira no Rio de Janeiro, o artigo argumenta que mesma nesta cidade brasileira, que ainda não recebe uma grande quantidade de turistas ricos, as casas estão “pela hora da morte”, apontando que “são os cariocas que offerecem augmento de alugueres para conseguir a habitação que desejam”.

O mal-estar, afirma o Jornal do Brasil, é geral – então por que culpar, em Paris, os estrangeiros? “Sofframos com resignação o desequilibrio mundial. E nada de procurar soluções antipathicas e contraproducentes para um problema difficil que se offerece a todos os paizes”, conclui.

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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