A imigração é a ‘verdadeira mola do progresso’, diz o novo diretor do INIC em 1957

Por Gustavo Barreto (*)
Trecho da capa da edição de 27 de janeiro de 1957 do jornal Correio da Manhã

Trecho da capa da edição de 27 de janeiro de 1957 do jornal Correio da Manhã

“Há falta de entrosamento no problema da imigração.” Foi essa uma das principais manchetes de capa da edição de 27 de janeiro de 1957 do jornal Correio da Manhã1. O diário carioca fez uma entrevista com o novo presidente do Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC), à época um dos órgãos responsáveis pelo tema. “As dificuldades que protelam ou entravam a solução do problema imigratório brasileiro têm suas origens na falta de coordenação dos vários órgãos do govêrno que se encarregam do assunto”, afirmou ao jornal o presidente do Instituto, Fernando Ramos de Alencar, pleiteando que o INIC seja o coordenador geral da temática, “dentro dos princípios que melhor atendam aos interêsses do país.

O foco do então presidente é o trabalho, como se verifica em toda a política imigratória da História do Brasil. “É indispensável, prosseguiu, que os govêrnos dos Estados e Municípios ajudem o INIC no conhecimento das reais necessidades dos respectivos mercados de mão-de-obra. É preciso que ajudem o Instituto a conhecer as disponibilidades de terras devolutas do govêrno, onde, através da criação de núcleos coloniais, fixaremos os pequenos agricultores”, cita o jornal.

O presidente diz ainda ao Correio que é preciso que o setor industrial informe ao INIC “quantos e quais técnicos” necessita para atender “não apenas as necessidades atuais mas e principalmente as futuras”. Outro fator que destacaria a importância das políticas imigratórias mais coordenadas é a “importância do abastecimento de gêneros alimentícios de primeira necessidade às populações urbanas”. O jornal informa que o atual presidente do INIC é vinculado ao Ministério das Relações Exteriores e já trabalhou com o tema na Itália, quando cuidava da emigração italiana para o Brasil, “estando assim a par dos problemas até mesmo na ordem prática do problema”. Destaca-se a quantidade de vezes que o texto usa a palavra “problema”, mais do que qualquer outra expressão.

O jornal informa que “amplas modificações seriam feitas na política imigratória do país” e, quanto à imigração, será executada “no plano mais liberal”, sempre atendendo “às exigências do mercado interno de trabalho”, concluindo que trata-se de uma “verdadeira mola do progresso”. O presidente do INIC afirmou que na Itália, por exemplo, a agricultura “não oferece mais as mesmas possibilidades encontradas no Brasil”, destacando os benefícios para o imigrante: “Aqui o agricultor alienigena pode ganhar dinheiro e fazer fortuna lavrando a terra, mesmo porque possui imenso cabedal de conhecimentos que se devidamente aplicados no trabalho, proporcionarão imensos rendimentos, em breve fortuna”.

A questão, resume Alencar, é saber “localizá-los no país”. O mesmo poderá ser feito, acrescenta, com o agricultor brasileiro, “que se localizado junto ao imigrante” muito terá a aprender “no amanho da terra, obtendo, por seu lado, remuneração mais condigna com a sua condição de produtor da riqueza nacional”.

NOTA

1 Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=089842_06&pagfis=72140&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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