1963: “Como vem acontecendo desde muito tempo, o contingente dos chamados ‘agricultores qualificados’ não alcançou 10% do total”

Por Gustavo Barreto (*)
Trecho de matéria de 17 de janeiro de 1965 do Correio da Manhã.

Trecho de matéria de 17 de janeiro de 1965 do Correio da Manhã.

Uma reportagem de 17 de janeiro de 1965 do Correio da Manhã1 – uma edição dominical – divulga dados da imigração dois anos antes, informando que cerca de 24 mil estrangeiros entraram no Brasil em 1963 como imigrantes, sendo que a quase totalidade veio pelos portos e aeroportos do sul do país. Utilizando dados do governo federal, o diário informa que a grande maioria – 21.470, conforme o registro jornalístico – veio espontaneamente, enquanto os demais “compunham a corrente da imigração dirigida”.

O diário informa ainda que a ampla maioria é de portugueses (11.585), seguidos de espanhóis e japoneses. Mais da metade desembarcou no porto de Santos, com cerca de 8 mil chegando pelo do Rio. Pelo norte chegaram poucos imigrantes, diz o jornal: em Recife 298; Belém, 189; Salvador, 155.

Demonstrando um certo tom de descontentamento, o jornal registra a suposta baixa qualificação profissional: “Como vem acontecendo desde muito tempo, o contingente dos chamados ”agricultores qualificados” não alcançou 10% do total, sendo inferior ao dos operários e dos que vieram dedicar-se ao comércio. [incompreensível] 2/3 do total estão rubricados em ”atividades domésticas”, devendo compreender-se aí os grupos femininos, infantil e senil. Perto de 1.300 para 3 é a relação”.

O jornal destaca o suposto interesse dos norte-americanos que querem se fixar no país: 973 em 1962 e 971 no ano seguinte. “Dois quadros contidos no Anuário Estatístico do Brasil – 1963, recentemente lançado, permitem boa visão sôbre o problema do fluxo migratório”, conclui a reportagem. O discurso racista já não é exposto em meio às matérias, como era comum nas décadas anteriores, porém a entrada de não europeus ainda é notavelmente pequena, quase nula.

NOTA

1 Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=089842_07&pagfis=61155&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#

(*) Gustavo Barreto (@gustavobarreto_), 39, é jornalista, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis clicando aqui). Atualmente é estudante de Psicologia. Acesse o currículo lattes clicando aqui. Acesse também pelo Facebook (www.facebook.com/gustavo.barreto.rio)

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